Gasolina argentina é a segunda mais cara na América do Sul
Reportagem e Edição: Luiz Carlos Gnoatto (MTb/PR 9910)
Encher o tanque do carro na Argentina está custando, em média, R$ 75,00 mais caro do que no Brasil e R$ 85,00 o que no Paraguai, após o último aumento dos combustíveis, aprovado pelo governo argentino de Mauricio Macri. Veja o comparativo de preços no infográfico abaixo.
Na Argentinam a gasolina subiu 31%, desde dezembro passado.
Nesta realidade, a Argentina tem hoje o segundo preço de combustível mais alto entre todos os países da América do Sul, ficando atrás apenas do Uruguai, que tem o preço mais caro do continente.
Fronteira
Nos municípios fronteiriços, principalmente aqueles que têm cidades gêmeas ou trigêmeas, como é o caso de Bernardo de Irigoyen (AR), Barracão (PR) e Dionísio Cerqueira (SC), a reação é imediata, e os proprietários de carros da Argentina vem abastecer nos postos do Brasil do Brasil e do Paraguai, mas não nos do Uruguai.
Desta vez, os argentinos privilegiados são os moradores das províncias de Misiones (fronteira com Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), Corrientes (fronteira com o Rio Grande do Sul), Formosa (fronteira com o Paraguai) e Salta (que tem uma parte da fronteira com o Paraguai).
Em função desta acentuada diferença no preço do combustível, hoje os argentinos, habitantes das cidades fronteiriças, nas províncias citadas acima, estão começando a vir, cada vez mais em maior número, abastecer nos postos brasileiros.
Segundo um motorista argentino, que veio abastecer no Brasil, em um posto da cidade de Barracão, ele está tendo uma economia mensal, abastecendo no Brasil, em torno de $ 1.100,00 (pesos), o que equivale em torno de R$ 250,00 a R$ 275,00, um pouco para mais, um pouco para menos, conforme está a cotação do peso no dia.
Exceção
Já a realidade se inverte para os argentinos que moram na província de Entre Rios, que faz fronteira com o Uruguai.
Nas cidades fronteiriças daquela província, são os uruguaios que atravessam a fronteira para abastecer nos postos argentinos.
O litro da gasolina na Argentina é, em média, $ 3,00 (pesos), em torno de R$ 0,75 mais barata que no Uruguai.
Flutuação
Esta situação é típica das cidades fronteiriças e até um tempo atrás o movimento era inverso ao de hoje, com os brasileiros, vindo das mais diferentes cidades, fazendo longas filas para abastecer nos postos das cidades de fronteira da Argentina, que até 2014 tinha o combustível mais barato que no Brasil.
Preocupação
Segundo Faruk Jalaf, presidente da Câmara de Postos de Gasolina do Nordeste da Argentina - Cesane, a situação é preocupante, pois o aumento dos preços, desde o final do ano passado, provocou queda acentuada da demanda. “Com os preços em alta, pessoas irão priorizar seus gastos em mantimentos, serviços e os essenciais. Depois, se sobrar algo, gastarão em outros itens”, disse.
O presidente da Cesane confirmou que está aumentando o número de argentinos que vão ao Brasil e ao Paraguai abastecer seus veículos e que isto está tendo um sério impacto no setor, nas cidades argentinas da fronteira.
Tri Fronteira
Segundo proprietários de postos de combustíveis das cidades gêmeas, os argentinos, aos poucos, estão voltando a abastecer nos postos de Barracão e Dionísio Cerqueira e a expectativa é que esse movimento aumente ainda mais. “Ficamos cerca de 10 anos com os preços mais altos que na Argentina e os brasileiros iam abastecer nos postos de Bernardo de Irigoyen. A partir do ano passado, a situação começou a se inverter e agora os argentinos estão vindo, em maior número, abastecer no Brasil”, disse um empresário.
Já em Bernardo de Irigoyen, os empresários do setor estão apreensivos e preodupados.
O movimento de brasileiros, que até o ano passado era intenso no comércio em geral de Irigoyen, já havia sofrido uma queda acentuada. Alguns comerciantes de lá chegam a falar em queda de 80% no movimento de brasileiros que compravam na cidade.
Agora, com os argentinos, cada vez mais indo abastecer no Brasil, a economia de Bernardo Irigoyen sofre mais um impacto, argumentam os empresários da cidade vizinha, enfatizando que todas as cidades argentinas que fazem fronteira com cidades do Brasil e do Paraguai estão sofrendo esse mesmo impacto.
Alimentos
Mas os argentinos estão vindo ao comércio brasileiros das cidades de fronteira, não apenas para encher o tanque dos veículos.
Em Barracão e Dionísio Cerqueira, é grande o número de famílias argentinas, vindas das mais diferentes cidades e regiões, chegando de carro, de ônibus de linha ou de ônibus ou vans fretadas, para compras diversas, principalmente nos supermercados e lojas de conveniência, tipo 1,99, de utilidades ou top 10, dessa linha.
A gerente de uma dessas lojas afirmou que a grande maioria dos clientes hoje são argentinos e muitos compram quantidades maiores para revender em suas cidades. “Na maioria dos dias, mais de 70% do dinheiro que entra em caixa é peso”, citou.
Um taxista argentino, que mora em Eldorado, disse que vale a pena vir abastecer no Brasil e passar no supermercado antes de voltar. “Não é só a gasolina. Os alimentos também são muito mais baratos no Brasil”, destacou.
Ele também explicou que exceto os produtos de origem animal, que não podem ser levados do Brasil para a Argentina, os argentinos, que vivem perto da fronteira, estão comprando os principais alimentos no Brasil. “Estamos tentando dar mais ‘fôlego’ ao dinheiro que temos e driblar a inflação argentina, que no primeiro trimestre deste ano chegou perto de 12%, e que de maio do ano passado para cá está beirando os 35%”, disse.
Aumento
Apesar da queda do preço do barril de petróleo em todo o mundo, na Argentina os combustíveis acumulam um aumento de 31%, desde dezembro, quando Macri assumiu como presidente. No domingo passado, com o quarto aumento decretado só em 2016, o litro de gasolina subiu de $ 17,00 a $ 20,00 pesos, cerca de R$ 4,20 a R$ 5,00. A gasolina premium passou dos $ 20,00 aos $ 24,00 pesos, cerca de R$ 5,00 a 6,00.
Empresários argentinos do setor afirmam que uma das razões do aumento é os custos de produção, que dispararam.
O governo contra-argumenta, dizendo que a principal causa é a desvalorização do peso, que chegou aos 50% desde dezembro.
Reportagem e Edição: Luiz Carlos Gnoatto (MTb/PR 9910)
Foto: Luiz C Gnoatto – Infográfico: Monique Puttkamer
Fonte: Luiz Carlos Gnoatto.: